SÁVIO SOARES

Cinema e música.

Montgomery Clift – O suicídio mais lento da história de Hollywood.


“Teve a pior das mortes para um astro: a morte em vida, a qual permite que o público vá se habituando a ela e se torne indiferente à decomposição do corpo.” – Ruy Castro

Um grande ator, presença e carisma eram a sua marca. Fez apenas dezessete filmes em 18 anos de carreira. Chegou a dizer que sua vida havia sido uma tormenta e que a morte seria a libertação. Clift marcou uma época, ao lado de James Dean e Marlon Brando. A jornalista Dulce Damasceno de Brito disse que os três eram considerados o trio de ouro dos rebeldes de Hollywood, adeptos do método Stanislavsky.

Assisti a filmes do astro que considero inesquecíveis: “Rio Vermelho”, “A Um Passo da Eternidade”, “Um Lugar ao Sol”, “Os Deuses Vencidos” e “Julgamento em Nuremberg.”

Era homossexual, numa época em que nenhum galã tinha coragem de assumir – seria uma condição imperdoável perante as fãs. Durante as filmagens de “Um Lugar ao Sol” tornou-se amigo íntimo da atriz Elizabeth Taylor (belíssima no filme).

Em 1957, após um jantar na casa da amiga Liz Taylor, embriagado, saiu dirigindo e bateu o carro contra uma árvore. Sofreu vários ferimentos que deformaram o belo rosto. Quem o socorreu foi a própria Elizabeth Taylor, mantendo seu corpo ensangüentado no colo, até a chegada da ambulância. A Metro,produtora do filme “A Árvore da Vida”, no qual estava atuando, usou todo o dinheiro do seguro e contratou os melhores cirurgiões dos Estados Unidos para recuperarem o rosto do ator. Fizeram um verdadeiro milagre, mesmo assim não era o mesmo belo rosto que impressionara mulheres e homens.

É inacreditável a terrível transformação que sofreu durante poucos anos. Basta compararmos as fotos e algum filme no auge do ator (“A Um Passo da Eternidade”, por exemplo) com um dos filmes mais desgraçados da história de Hollywood: “Os Desajustados” (1961) além de Montgomery Clift o elenco contava ainda com a presença de mais dois astros decadentes: Clark Gable e Marilyn Monroe.

Clark Gable sofreu um ataque cardíaco e morreu dez dias depois da conclusão das filmagens. Foi o último filme de Marilyn Monroe que faleceu em 1962, deixando o inacabado Something’s Got To Given (1962). Já Clift, no dia 23 de julho de 1966, aos 45 anos de idade o seu coração deixou de bater, mas ele já estava morto há muito tempo.

04/12/2009 - Posted by | Uncategorized | ,

9 Comentários »

  1. Sávio,

    De Montgomery Clift guardo a clara lembrança de um filme muito interessante chamado “The Heiress” (Tarde Demais) de 1949, com a linda Olivia De Havilland. Ela inclusive ganhou um Oscar por sua interpretação nesta fita. A antológica cena da escada, quando a protagonista recusa-se a abrir a porta para ele, que faz o papel de um caça-dotes, é uma das mais marcantes do cinema em minha opinião.

    Seu comentário é pertinente quando se refere a tendência de alguns astros a essa trajetória errática de desmantelo e decadência. Acho até que isso faz parte da mitologia de cada um deles, enrodilhados em verdadeiras teias de vaidade e loucura.

    Aquele abraço.

    Comentário por Jason Stone | 04/12/2009 | Responder

    • Jason,
      Valeu a lembrança. A cena é marcante. Clift e Havilland estão no auge da beleza. A direção também é de primeira. (William Wyler)
      Estou com você quanto ao desequilíbrio – o juízo desse povo era no pé.
      Antigamente os estúdios comandavam. A vida do astro era vigiada e qualquer vacilo podia causar a perda do papel principal e o sucesso ía pro brejo. Hoje em dia a vaidade e a loucura é a mesma de antes, mas o preconceito (cor da pele e sexo, por exemplo)diminuiu e não há mais o controle rígido dos grandes estúdios. Um caso clássico é o do ator-pugilista Mickey Rourke que demorou duas décadas para ser lembrado novamente. Então, era (e ainda é) assim: quanto mais alto estiver na montanha, maior será a queda…

      Abraços,

      Sávio

      Comentário por dsaviosoares | 04/12/2009 | Responder

  2. Sávio, o Montgomery Clift era muito bonito e também um grande artista.
    Dizem que ele era apaixonado pela Elizabeth Taylor e ela sempre foi grande amiga dele.
    Morreu jovem mas ele parecia ter um grande tormento dentro dele.

    Comentário por Lourdes | 04/12/2009 | Responder

    • Lourdes,
      Liz Taylor sempre teve um lado de compaixão com os atores que não assumíam a sexualidade. Dizem nos livros que foi a única mulher que o astro se interessou.

      Abraço,

      Sávio

      Comentário por dsaviosoares | 04/12/2009 | Responder

  3. Tenho em mim a lembrança de um Monty perfeito em suas interpretações, dominando a cena, o espaço, as falas; os gestos medidos, espontâneos, o carisma arrebatador. Não era um porra-louca como Dean, atoraço também, mas muito espalhafatoso e estrela demais. Sua homossexualidade enrustida só fez mal a ele mesmo, levando-o ao suicídio de que fala esta matéria. Um grande ator, uma grande tragédia!

    Comentário por Marcelo Magalhães | 30/12/2009 | Responder

    • Olá Marcelo,

      Você acertou em cheio. Monty, talvez pelo temperamento intimista, não seja hoje em dia reconhecido tanto quanto um James Dean (popularmente dizendo), mas as atuações foram do mesmo nível. (apesar de preferí-lo ao jovem de Vidas Amargas)
      Era carismático demais e possuía uma beleza impressionante.
      Foi um suicídio lento, muito lento – para infelicidade dos que admiram a sétima arte.

      Abraço e obrigado pelo comentário.

      Sávio.

      Comentário por dsaviosoares | 31/12/2009 | Responder

  4. Já tinha ouvido falar dele, mas nao sabia da historia. É uma pena. Era lindo mesmo.
    Eu vi ‘Tarde Demais’, mas eu era pre-adolescente, nem lembro tanto. Bom perceber q já tinha entrado em contato com esse ator.
    Fiquei curioso, já q todos elogiaram o talento.

    Comentário por jepereira | 19/02/2013 | Responder

  5. Edward Montgomery Clift foi dos mais belos rostos do cine, junto a Marlon Brando, Greta Garbo, Audrey Hepburn … Toda a tortura dentro dele serviu à sétima arte, feito cordeiro de sacrifício . Marlon Brando era seu amigo e gostava bastante dele, e nunca acreditou que ele fosse bissexual ou homossexual. A mãe de Monty disse q o filho se apresentou homossexual desde cedo, ao passo q algumas pessoas insistiam q ele fosse bissexual. Não dá para saber até q ponto a sexualidade foi importante para seu desgosto e amargura…acho q sua alma sensível teria sofrido de todo jeito. Fazer a equação “Senhor X =gay” é bobagem, há muita coisa em redor da persona , há coisas demais no mundo , na vida e no tempo. O fato é o q se vê diante dos olhos quando se bota um filme para rodar de Monty jovem belo e profissional eficiente fazendo seu papel como soldado em “Perdidos na tormenta” …ele já foi padre num Hitchcock… adúltero com a Jenifer Jones …o cowboy de rio vermelho é algo gay propositalmente tanto quanto Ben-Hur mesmo com a presença machista de john wayne (assassino de índios) Quantos artistas se desgraçaram com substâncias químicas ? Michelangelo, artista , e gay, viveu bastante tempo… Tolstoi, artista e hetero , também viveu…quantos montes de artistas mulherengos , competentes, bêbados, prestigiados, ricos, foram infelizes e viciados?incontáveis. Liz e Monty se amaram muito, só q Liz o amava romanticamente e Monty, platonicamente. Se Liz tivesse casado com Monty (se ele tivesse sido seu primeiro marido, quiçás ela não teria se casado oito vezes, não haveria espaço para o bêbado insuportável de chato Richard Burton!

    Comentário por isabelle | 22/02/2013 | Responder

  6. muito apaixonada por seu rosto e seu jeito de ser dentro dos filmes desde a sexta série (anos 90) poucas coisas são tão arrebatadoras de se ver como Monty Clift! Paulo Francis disse q Garbo e Brando varriam com quem quer q contracenassem nas telas. Bastava a eles “SER” em cena. Verdade. Para Monty também. A camera absolutamente apaixonada por seu rosto, sua sensiblidade aflorava na tela, q alma, q personalidade, q caráter ! Não se faz mais gente como Monty e Marlon… são frutos q o vento levou. Ninguém é como Monty!Perfeito, lindo demais e sabia muito bem seu ofício.
    P.S. : também acho Marlon Brando incomparável, tanto por beleza, personalidade e a respeito de saber seu ofício!
    de guris, claro… de gurias há algumas bastante necessárias , vitais, espetaculares…Vivien Leigh, Kate Hepburn, Gene Tierney, Romy Schneider, Audrey Hepburn,Isabelle Huppert, Marilyn ,

    Comentário por isabelle | 22/02/2013 | Responder


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