SÁVIO SOARES

Cinema e música.

Com o início do império de Charles “Lucky” Luciano a estrutura da Máfia se expandiu e os filmes sobre gângsteres seguiram o estilo noir.


No início, os gângsteres começaram com pequenos crimes, em esquinas de bairros violentos e tornaram-se empresários independentes e bem-sucedidos nos anos de bebidas clandestinas. Cortejados pela imprensa e celebrados pelos filmes, mas atrás do brilho havia um propósito mais profundo: fundar um negócio, uma empresa criminosa feita de regras, rituais, segredos e medos.

A polícia parecia incapaz de detê-los e décadas se passaram antes que o gigante adormecido da lei federal acordasse para a ameaça representada pela Máfia. Antes disso, centenas iriam morrer, escondendo do domínio público os trabalhos internos de uma Máfia que entrou no submundo.

Aparentemente parecia uma reunião de uma diretoria poderosa, autos executivos discutindo estratégias corporativas, mas era uma corporação criminosa: os homens da mesa eram gângsteres. negócios para eles significavam, subornos, extorsões e, às vezes, assassinatos. A idéia de uma corporação mafiosa exercendo um poder colossal parece de algo vindo de um filme, mas realmente aconteceu.

“Eles tornaram-se uma espécie de governo em sí mesmos, acreditavam que eram um governo. Era um governo no sentido de saber que podiam exercer influência política, podiam subornar as pessoas que mantinham a lei e se manter acima da população” – Selwin Raab – jornalista do New York Times

 

O modo como a Máfia trocou o bar pela sala da diretoria é a parte mais incrível da história do gângster americano. Isso mudou a forma dos mafiosos operarem, mudou a forma como a lei federal respondia ao crime de gângster e iria mudar a imagem pública dos inimigos públicos para sempre.

Com os chefes da Máfia mais isolados, Hollywood criou um novo estilo de gângster. Os mafiosos do cinema tinham sido vagabundos de rua, estranhos ou românticos tentando a sorte do sonho americano. Agora eles eram solitários, perseguidos pela dúvida e demônios pessoais. O novo estilo ficou conhecido como filme noir.

“Tem todos os personagens sinistros. Com certeza usa o gângster, mas rouba a vitalidade dele, tira-o do centro das atenções, ele deixa de estar acima da multidão porque é um certo mal-estar que afeta a todos no filme noir. São todos assombrados, são todos um pouco afetados por uma paranóia pertubadora.” – Marilyn Yaquinto – Historiadora da Universidade de Michigan.

Para muitos a clássica era dos gângsteres terminaria com a morte – alguns na cadeira elétrica e outros nas ruas. A história começou em Nova York na década de 30, a cidade estava na contenção da dívida econômica, apenas alguns meses antes a bolha embriagada dos anos 20 tinha explodido com violência. Alguns não podiam acreditar em seus olhos, os sonhos de uma geração foi atropelado diante deles – alguns tiveram raiva, outros se resignaram como fato, mas uma coisa era certa: não havia escapatória para uma economia em ruínas.

Nos estados Unidos 4 milhões de homens estavam sem trabalho em 1 ano, viviam de esmolas e benefícios, lutavam para sobreviver. Falta de salário significava o fim do jogo, fim das garotas de programa e da bebida. O espírito de festa dos anos 20 abriu espaço para uma sensação de austeridade amarga.

 Nas ruas, as gangues da Máfia de Nova York ainda tinham o poder. Conhecidas como as “famílias” essas gangues controlavam seus distritos e os crimes que ocorriam por lá. Mas a quebra da Bolsa apertou as atividades da Máfia e detonou um conflito que já estava afermentando havia uma década – a luta seria brutal e sangrenta, era uma batalha entre o velho e o novo e iria mudar todo o futuro da Máfia. A história chama o conflito de “A Guerra Castellammarese”.

Charles “Lucky” Luciano

O líder do conflito castelamarês foi Joe “Chefe” Masseria, ele era um tradicionalista, ele acreditava que as “famílias” deveriam continuar fazendo as mesmas coisas, “a coisa anda sozinha”, ele dizia, “e derruba a todos no caminho”. Mas Salvatore Charles “Lucky” Luciano discordava e viu a vantagem das gangues trabalharem em conjunto. A Máfia deve fazer negócios fora da família, mesmo com gangues de outros grupos étnicos, como os irlandeses e judeus. Luciano não demorou a praticar o que pregava – seu amigo de longa data e conselheiro era um judeu chamado Meyer Lansky.

                                                                                                      Joe Masseria

Mesmo quando menino Luciano era figura ativa no submundo de Nova York. Com 14 anos ele já era membro da famosa gangue de rua “Five Point”. 10 anos mais tarde Luciano se tornou um rico comerciante de bebidas, durante a lei seca ele levou a bairros inteiros a produção de bebidas ilícitas. Nas pensões eles chamavam os fabricantes de bebidas de out cockers – como “Príncipe dos out cockers”, Luciano era amigo de todos, não era um malvado nas ruas cravadas de balas da Nova York dos anos 20.

Meyer Lansky

As guerras castelamaresas começaram como mais uma rixa de sangue e alimentando a rixa, o código da Máfia de respeito, silêncio e vingança. Os cabeças de todas as máfias estavam competindo pelo título de Capo de tutti capi, um título de respeito que reconhecia o maior mafioso da época. Mas a rixa saiu de controle. Em 1 ano mais de cem pessoas morreram. Primeiro Luciano ficou ao lado de Joe, o “Chefe” Masseria, mas a matança o convenceu que a Máfia e seu modo de funcionamento teriam que mudar.

Charles “Lucky” Luciano decidiu que era chegado a hora de trazer uma certa estrutura ao crime organizado. Ele achava que as balas eram ruins para o negócio e atraiam a atenção, criavam problema e não valiam à pena. E eles podiam ganhar mais dinheiro se unindo e criando de alguma forma uma organização. Luciano estava farto das mortes intermináveis e resolveu acabar com isso com uma última morte: A do antigo aliado Joe Masseria.

Benjamin “Bugsy” Siegel 

Luciano atraiu pessoalmente Joe, o “Chefe” Masseria para um restaurante em Conne Island em abril de 1931. O pretexto: discutir no almoço e no próprio jogo amigável de cartas a morte do último rival castelamarês de Masseria. Mas no final, masseria seria o próprio alvo. Os cineastas amavam eventos assim por seu sabor quase bíblico. Aqui, Luciano era Judas, ele era o delator. Seis balas mais tarde Masseria estava morto e Luciano seria o chefe de Nova York.

O ás de espadas foi colocado na mão sangrenta e sem vida de Masseria. Foi uma piada macabra, típica de um assassino de primeira chamado Benjamin “Bugsy” Siegel. O serviço garantiu a Siegel um lugar de destaque na Máfia.

11/06/2011 - Posted by | Uncategorized |

4 Comentários »

  1. caro Sávio exelente post!
    Eu sou apaixonado pelas histórias da máfia.
    Não defendo o crime!, mas é impressionante como naquele tempo mesmo criminosos crueis como os Gangsters tinham regras de comportamento sem se deixarem cair na brutalidade total como atualmente.
    Pena que não conheço muita literatura sobre o tema em Português ou Espanhol, pois meu Ingles ainda é aquele da escola primária!
    Um grande abraço.

    Comentário por michel | 13/06/2011 | Responder

    • Grande Michel,

      O surgimento da Máfia, o crescimento numa época de muita miséria da economia norte-americana – hoje ainda a mais poderosa, ainda nos impressiona. Há uma vasta bibliografia também em português. O tema também me fascina, pois o “sonho americano” nos deu um Charles Chaplin, mas também nos “presenteou” com indivíduos que preferiram desviar o talento para o caminho do mal.
      É preciso entender, logicamente sem vangloriar os seus feitos baseados em derramamento de sangue.

      Abração,

      Sávio

      Comentário por dsaviosoares | 13/06/2011 | Responder

  2. Eu também gosto muito quando o assunto se fala de máfia,principalmente as de origem italiana,não é só pelo modo que eles agião era a tradição e o modo em que vivião, no meio da sociedade em geral, eram respeitados e temidos.Eu sou fã da COSA NOSTRA.

    VALEU Savio.

    Comentário por Arthur | 23/09/2011 | Responder

    • Olá Arthur,

      As histórias da Máfia sempre geraram filmes sensacionais.
      O tema sempre será abordado por aqui.

      Abraços,

      Sávio

      Comentário por dsaviosoares | 05/10/2011 | Responder


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